
Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) representa um grupo de sintomas, incluindo pensamentos intrusivos, rituais, preocupações e compulsões, que causam sofrimento significativo. Além disso, podem consumir bastante tempo e interferir com a rotina, com o funcionamento, relacionamentos ou funcionamento e atividades sociais. Em um indivíduo, podem estar presentes a obsessão, a compulsão ou ambas.
Obsessão é um pensamento, um sentimento, uma ideia ou uma sensação que tem caráter recorrente e intrusivo, ela é um ato mental. Já a compulsão é um comportamento consciente, repetitivo e padronizado (por exemplo, contagem, evitação ou verificação).
O indivíduo acometido sabe da irracionalidade do ato, mas se sente compelido a realizá-lo, mesmo sendo indesejado (egodistônico). O objetivo das compulsões é reduzir a ansiedade, mas nem sempre é bem-sucedido, além de poder aumentar a ansiedade (assim como a tentativa de evitar o ato também pode fazer).
A prevalência do TOC na população geral é de 2 a 3% e de até 10% nos pacientes de clínica psiquiátrica. É o 4º transtorno mais comum.
As adolescentes são mais afetadas que os adolescentes, mas nos adultos a proporção é a mesma entre homens e mulheres. No sexo masculino, a doença começa por volta de 19 anos e nas mulheres em média aos 22 anos de idade (2/3 dos indivíduos têm início de sintomas antes dos 25 anos e 15% têm início após os 35 anos). Também pode ocorrer na infância e na adolescência, solteiros são mais afetados do que os casados (mas este dado pode ser enviesado, pois indivíduos com TOC podem ter mais dificuldade para manter um relacionamento). Negros são menos afetados que os brancos (mas é outro dado que pode ser enviesado por menor acesso à assistência psiquiátrica).
Dentre as comorbidades, 67% dos indivíduos com TOC têm Transtorno depressivo maior e 25% têm fobia social, além de poder ocorrer etilismo, Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Transtorno de Pânico, Fobias específicas, Transtornos Alimentares, de personalidade, de Tourette (6-7%) e tiques (20-30%). Pode ainda ser confundido com o transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva, marcada por preocupação obsessiva com detalhes e perfeccionismo.
Em sua etiologia, destacam-se fatores biológicos (neurotransmissores serotoninérgicos e noradrenérgicos), imunológicos (infecção por estreptococos beta-hemolítico do grupo A – 10 a 30% desenvolvem Coreia de Sydenham e sintomas obsessivos-compulsivos), imagenológicos (alteração de funções entre o córtex orbitofrontal, caudado e tálamo), genéticos (familiares de pacientes com TOC têm 3-5 vezes mais chance de apresentar TOC, bem como há maior incidência de outros transtornos, como o Transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtorno de tiques, transtorno de ansiedade de doença – hipocondria -, transtorno dismórfico corporal, transtornos alimentares e dos impulsos, como onicofagia), comportamentais (estímulos condicionantes), psicossociais (de personalidade e psicodinâmicos).
Os padrões mais comuns de obsessões, em ordem decrescente de ocorrência são: contaminação (podendo chegar a arrancar a pele das mãos de tanto lavar), dúvida patológica (verificar diversas vezes se trancou a porta ou se desligou o fogão), pensamentos intrusivos (pensamentos de conteúdo agressivo ou sexual repreensível para o paciente, ideias suicidas), simetria (necessidade de precisão, simetria, podendo levar horas para fazer a barba ou terminar uma refeição), obsessões religiosas, puxar os cabelos, roer as unhas e masturbação compulsiva.
Até 50% dos indivíduos com TOC podem ter depressão comórbida. Também pode haver personalidade anancástica, maior índice de celibato (homens) e de desacordo matrimonial entre os homens casados. Dentre os diagnósticos diferenciais se destacam doenças neurológicas (doenças dos núcleos da base, como Coreia de Sydenham e Doença de Huntington), Transtorno de Tourette e psicoses.
O início do TOC é súbito, após evento estressor (como gestação, problemas sexuais ou morte de um familiar, para 50-70% dos pacientes), podendo ter sintomas flutuantes ou constantes, 20-30% dos pacientes têm melhora importante dos sintomas, 40-50% moderada e os 20-40% restantes continuam sintomáticos ou pioram.
O risco de suicídio é elevado em pacientes com TOC. O prognóstico é pior naqueles que cedem às compulsões (em vez de resistir), nos que têm início na infância, compulsões bizarras, necessidade de hospitalização, depressão, crenças delirantes, ideias supervalorizadas (aceitação das obsessões e compulsões) e personalidade esquizotípica.
O prognóstico é melhor nos que têm bom ajuste social e ocupacional, evento precipitante e sintomas de caráter episódico.
Os sintomas de TOC são refratários à psicoterapia e psicanálise psicodinâmica.
A combinação de medicação e terapia cognitivo-comportamental (TCC) é eficaz na redução dos sintomas de indivíduos acometidos. Muitos pacientes têm recaídas dos sintomas quando interrompem o uso dos medicamentos. Para estes indivíduos, os fármacos antidepressivos devem ser utilizados em doses mais altas, com melhora de 50-70%. Também podem ser empregados outros medicamentos em associação aos antidepressivos, quando não há melhora com os medicamentos empregados inicialmente.
A terapia cognitivo-comportamental é o tratamento de escolha para TOC, com abordagens como exposição, prevenção de resposta, dessensibilização, prevenção de pensamentos, inundação, terapia implosiva e condicionamento aversivo.
Outros tratamentos disponíveis são a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT), eletroconvulsoterapia (ECT), psicocirurgia e estimulação cerebral profunda (ECP).
Outros transtornos obsessivo-compulsivos e transtornos relacionados:
Síndrome de referência olfativa: falsa crença de que exala um odor desagradável que não é percebido pelos outros, precocupando-se em lavar-se ou trocar de roupa o tempo todo, predomina em homens solteiros, com início por volta de 25 anos de idade. Pode ser diagnosticado como transtorno delirante, quando a crença de odor subjetivo chega a se tornar um delírio somático. Deve ser diferenciada da sinusite e de outras condições médicas.
Fontes:
1) Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. Compêndio de Psiquiatria - 11ed: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. Artmed Editora; 2016.
2) American Psychiatric Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-5 (R)). 5th ed. Arlington, TX: American Psychiatric Association Publishing; 2013.